segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal e realidade

Quando você vê alguém próximo, um amigo mesmo perdendo o controle de coisas simples como levantar um garfo para comer, levar até a boca uma caixinha de suco ou perder palavras simples em meio a um nada de pensamentos, você pensa: "o que é a vida...para que estou trabalhando hoje se amanhã uma doença terrível poderá me acometer e acabar com tudo, assim de repente?"
Nossa isso faz você refletir mais sobre o que está fazendo da vida,  o que realmente vale à pena e se vale à pena alguma coisa.
Não sei, mas após visitar este amigo no sábado, voltei pra casa muito pior do que costumo estar normalmente, e me parece que o gosto da comida era melhor, o pegar do copo, o sorriso da criança, o banho tomado, o urinar...tudo que parece tão simples, mas que na verdade é tão lindo de se fazer.
Não sei se amo a vida ainda mais ou a odeio ainda mais.
Ao que me parece somos fantoches nas mãos do destino ou sabe-se lá o que?



Não sei ao certo se Deus existe e nem por que escrevo "Deus" com letra maisúscula...simplesmente não sei.
Acontece que ninguém sabe de nada o que existe, o que não existe.
A única coisa que sei é que o sentimento verdadeiro não morre nunca.
Não importa o tempo, a distância, a doença, nada de nada.
E o verdadeiro também é único para cada um. Existem pessoas que questionam o que é verdade e o que não é. Aliás tudo é questionável.
Mas eu sinto que morrerei sentindo amor de verdade e sofrendo sempre pela tristeza do mundo que me afeta de forma absurda.
Me doei e dediquei a muitas pessoas e alguma em especial sem querer nada em troca, mas hoje me vejo sozinha de verdade e o quanto me faz falta alguém que me ame de fato, mas não o tenho. Criei ilusões de uma beleza passageira de uma inteligência falsa e de falsos amores.
Nem ao menos uma palavra amiga eu tenho e também não a quero.
Sou amiga do nada e não tenho nada há não ser eu mesma.
Natal...que Natal? Consumismos sem fim, parentes hipócritas, desejos de feliz natal de pessoas que mal falam com você o ano todo. Sabe pra mim chega!
Me assumo exclusa da sociedade capitalista e sozinha por natureza.
De uma vez por todas dançarei com a minha própria sombra o resto dos meus vazios dias e noites mau dormidas até que a perda de consicência chegue e me leve  docemente pelos corredores escuros da morte, assim como está fazendo com meu amigo querido.
Espero que se deus realmente existe que ele faça a parte dele e dê o descanso merecido para alma tão doce e querida como é a do meu amigo.
Um Natal triste e cheio de dor e sombras para todos os seres humanos.

 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O que sou afinal?





Caminho no corredor de casa,
Olho para eu mesma,
E percebo não ser mais eu mesma...
A camisola em seda, longa, negra recosta-se no chão,
Esconde-me na penumbra da dor, da tristeza e da solidão.
Dias intermináveis como sendo um cortejo fúnebre eterno.
Lamento olhando-me no velho espelho empoeirado pelo tempo: 
"Oh! Solidão grande amiga.
Oh! Noite companheira confidente!"
E chove, chove suavizando o calor da dor de viver,
Minhas palavras jazem no nada da ilusão,
E já não tem mais grande valia para ninguém,
Se faz indiferente, ausente do mundo, da morte.
Mas por um momento de repente...
Penso não ter mais identidade, mais vida,
E me questiono: eu a tive um dia?
Um dia eu fui eu mesma? 
Nunca estive satisfeita com minha pouca inteligência
Meu fraco físico, minha vil aparência falsa bela.
E  mais uma vez não tenho resposta.
Não ouço  nem mais vozes,
Pois delas também estou ausente.
Me confundo entre vidas, entrelinhas.
Realidades não vividas,
Realidades não reais.
Sou nada além de uma sombra algoz,
De um passado atroz não vivido.
De algo não concreto,
De arte não reconhecida,
De uma quadro não pintado.
Esta é a minha imagem pintura morta em vida.

Pour Anna: Escrito por mim e que traduz de fato que esta sou eu; personalidade feita e que não mudará, haja o que houver e custe o que custar, inclusive minha própria vida.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Far from me

 
Existem algumas música que realmente dizem tudo o que sentimos. E por vezes parecem ser nossas únicas confidentes.

Clamor pela vida


Diante de vós eu clamo dia e noite.
Prestai atenção ao meu lamento,
Pois estou saturado de males.
Minha vida está perto do abismo
E por vezez sinto que sou contada
Aos que descem à cova.
Sou como uma mulher sem força.
É entre os mortos minha morada.
Sou como os que jazem no sepulcro
Dos quais não guardais lembrança
E foram retirados de vossa mão.
Numa fossa profunda
Que a vida me lançaste,
Nas trevas, nos abismos.
Pesa sobre mim vosso furor,
E com todas as vossas ondas
Me afogastes.
Afastastes de mim meus amigos
Sou prisioneira sem poder sair.
Meus olhos se consomem pela dor.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sri Prem Baba - flor do dia



Sri Prem Baba ( Pai do Amor) é um mestre da linhagem Sachcha, da Índia, e também herdeiro de uma das tradições xamânicas das florestas brasileiras

“Um dos aspectos fundamentais a serem compreendidos é que a separação é somente uma ilusão - o externo é reflexo do interno.
Toda a ignorância do mundo está dentro de cada um de nós.
Toda a maldade está dentro do coração humano também.
É muito fácil cairmos na crença de que o mal mora no coração dos criminosos, dos traficantes de drogas, dos terroristas, das pessoas de caráter duvidoso...
Nós somos cocriadores de tudo o que existe no mundo  e está tudo  relacionado.
 Somos um só. Somos um só na luz e um só na sombra.”

Comentário:
Este é um pensamento bem positivo sobre o mundo e o homem.
Mas a grande verdade é que não vivemos num mundo cercado de bondades e positivismos, ao contrário.
A visão que tenho sobre tudo é a pessimista mesmo a seguir o preceito de Tomas Hobbes que acreditava que o homem era mau por natureza: " O homem é o lobo do homem", dizia ele.
E sim como ele foi racional e certeiro nesta filosofia de vida, mesta sábia frase.
A realidade é dura mais tem que ser dita, principalmente por aquelas pessoas que vivem em condições miseráveis, nas periferias por exemplo.
É difícil chegar com um pensamento positivo e bondoso como este, sendo que a mãe do "cara" que mora ao lado do barraco, fora estuprada pelo traficante do morro e nada foi feito. Sabe por que?
Porque o traficante contraventor é amigo do "camarada" da polícia, ops, milícia que atua na região.
Entende como vivemos no próprio inferno? Este exemplo foi fictício, mas poderia ser real.
Não dá para engolir pensamentos e frases filosóficas positivas.
Isso não quer dizer que temos que jogar a toalha e desistir.
Mas temos que ser realistas e parar de sonhar com bondade, pois o homem de fato é lobo do homem.
Não existem amigos de verdade e ninguém está a salvo da malevolência, traição e desonestidade, ninguém.
Há não ser os excluídos da sociedade, como eu que ainda tem ideais próprios e por isso é banalizado e colocado à parte de tudo.
E por isso digo que a solidão é um mau necessário.

Mistério do dia 12-12-12



A data de hoje, segundo os místicos, é a do alinhamento astrológico entre a Terra, o Sol e a Via Láctea, o que só acontece a cada 26 mil anos. 
Trata-se de um momento cósmico, que marca o fim de um ciclo.
É a transição da era de Peixes para a era de Aquário e de acordo com o conferencista da Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos e Culturais, Arte e Ciência (Ageacac), Adenilo Câmara, o número 12 representa o o conjunto de tarefas de um apóstolo para propagar uma doutrina. 
Na prática, representa a mudança:
 “É quando o indivíduo deve buscar a mudança em si. É quando a humanidade deve buscar a mudança no próximo, a partir da cooperação, na união”, diz.
O estudioso também chama a atenção para a soma da data 12.12.2012.
 “A soma dá 11 e representa a dualidade, o homem e a mulher, a força positiva e a negativa, então a mudança deve ser universal”. 
Outro ponto é que a soma dos algarismos do número 12 dá 3, que significa a criação e segundo Adenilo, tudo é possível com o 3, no âmbito astrológico da numerologia. 
Tem incidência grande na cristalização da coisa, que algo vai se criar e vai mudar.
 “O 12 atinge o psicológico da mente e se as pessoas pensam muito antes de tomar uma decisão, se perdem nas dualidades, hoje é um dia para dar o passo seguinte, tomar a decisão. É o momento certo”, finaliza.

Comentário:
Seres humanos sempre tentando encontrar explicações para tudo e se apegando em fatos e acontecimentos para dar um "q" de mistério e apimentar um pouco de sua vida inçossa ou grosseiramente falando "sem sal e sem açúcar".
Oras quanta bobagem acerca de números.
O que afinal temos de tão poderoso, se nem ao menos temos plenos poderes sobre nossas próprias decisões.
Afinal se realmente o tivéssemos, um ser humano acometido de câncer em fase terminal, poderia mesmo tomar a decisão de não morrer?
Chega de ouvir tanta bobagem. A verdade é que não passamos de marionetes da vida e fazemos o que a vida o quiser que façamos.
Não será nenhum tipo de número que irá modificar nada e sim nossas próprias atitudes e aspirações.

Lei do retorno humano



Ai de ti que destróis e não foste destruído,
Que és traidor e não foste traído.
Quando acabares de destruir,
Tu serás destruído,
Quando acabares de trair,
Tu serás traído.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre a vida



A solidão às vezes se faz necessária para que possa ajustar a vida.
As aspirações que tinha  nunca foram realizadas, de repente me percebi mais velha e nem metade daquilo que ansiava na juventude realizei.
Então começam as depressões: uma atrás da outra.
Sabe a idealização daquela casa antiga em Pinheiros, adornos ornamentados da época vitoriana, a banheira de pezinhos, um carro antigo na garagem, viagem para França, o príncipe encantado...nada de nada.
Então o que aconteceu com todas aquelas aspirações? Afinal? 
Em algum momento da vida se perdeu e você nem se deu conta. É terrível!! O que eu estava fazendo? Por que não lutei? E agora...se o mundo realmente acabar no dia 21 de dezembro. O que eu consegui, o que eu fiz e principal na mente e coração de quem estarei...ou não estarei? O que fiz de bom para este mundo?
Sinto-me um fantasma que vive numa realidade irreal, numa vida que não é minha e me arrasto entre correntes que são afagadas pelo malévolo abraço do álcool e a noite que escurece minhas lembranças, de uma vida que na verdade nunca tive e que não terei.
Por deus, se é que existe um, nem o álcool tem dado mais conta de tanta tristeza, solidão e amargura.
Só resta mesmo esperar o inesperado e continuar a morte vil e lenta.

Strange kind of love

A letra desta música diz algumas coisas que somente quem sente consegue entender. Coisas estranhas que acontecem com nossas vidas, corações e que tentamos achar respostas mas não encontramos nunca.
E a partir destes questionamentos surgem outros, e jamais cosegue-se definir o que é o amor, ódio...ou falta de amor.
Não se sabe ao certo e por mais que centenas de filósofos e pensadores o tentem, jamais conseguirão explicar.
A máxima que consegui chegar foi algo parecido com a letra desta música que para mim soa como  um tipo de dor eterna.
Não mais,  adoro a canção e o artista é um dos melhores da cena verdadeira gótica mundial. Segue letra e tradução, enquanto ouço no repeat:


A strange kind of love
Um estranho tipo de amor
A strange kind of feeling
Um estranho tipo de sentimento
Swims through your eyes
Nada através dos teus olhos
And like the doors
E como as portas
To a wide vast dominion
Para um amplo e vasto domínio
They open to your prize
Abrem-se para o teu prémio
This is no terror ground
Isto não é solo de terror
Or place for the rage
Ou lugar para raiva
No broken hearts
Sem corações partidos
White wash lies
Mentiras branqueadas
Just a taste for the truth
Apenas um sabor da verdade
Perfect taste choice and meaning
Perfeito sabor, escolha e significado
A look into your eyes
Um olhar nos teus olhos
Blind to the gemstone alone
Ofuscado pela pedra preciosa sozinho
A smile from a frown circles round
Um sorriso de carranca gira em volta
Should he stay or should he go
Deverá ele ficar ou ir embora
Let him shout a rage so strong
Deixa-o gritar a raiva tão forte
A rage that knows no right or wrong
Uma raiva que não conhece o certo ou o errado
And take a little piece of you
E que leva um pequeno pedaço de ti
There is no middle ground
Não existe solo intermédio
Or that's how it seems
Ou assim o parece
For us to walk or to take
Para nós seguirmos ou aceitarmos
Instead we tumble down
Em vez disso, caímos aos tombos
Either side left or right
Qualquer um dos lados esquerdo ou direito
To love or to hate
Para amar ou para odiar

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cuts you up



Cuts You Up

I find you in the morning
After dreams of distant signs
You pour yourself over me
Like the sun through the blinds
You lift me up
And get me out
Keep me walking
But never shout
Hold the secret close
I hear you say

You know the way
It throws about
It takes you in
And spits you out
It spits you out
When you desire
To conquer it
To feel you're higher
To follow it
You must be clean
With mistakes
That you do mean
Move the heart
Switch the pace
Look for what seems out of place

On and on it goes
Calling like a distant wind
Through the zero hour we'll walk
Cut the thick and break the thin
No sound to break no moment clear
When all the doubts are crystal clear
Crashing hard into the secret wind

You know the way
It twists and turns
Changing colour
Spinning yarns
You know the way
It leaves you dry
It cuts you up
It takes you high
You know the way
It's painted gold
Is it honey
Is it gold
You know the way
It throws about
It takes you in
And spits you out
You know the way
It throws about
It takes you in
And spits you out
It spits you out
When you desire
To conquer it
To feel you're higher
To follow it
You must be clean
With mistakes
That you do mean
Move the heart
Switch the pace
Look for what
Seems out of place

It's o.k.
It goes this way
The line is thin
It twists away
Cuts you up
It throws about
Keep me walking
But never shout.
 

Lhe Prega Peças

Te encontrei pela manhã
Após sonhos de sinais distantes
Você se derrama sobre mim
Como o sol através das persianas
Você me levanta
E me leva para fora
Mantém-me andando
Mas nunca grita
Guarda o segredo consigo
Lhe ouço dizer

Você sabe o caminho
Que se apresenta
Leva você para dentro
E lhe cospe para fora
Cospe você para fora
Quando você deseja
Para conquistá-lo
Sentir que você é maior
Para segui-lo
Você deve estar limpo
Com erros
Que você intencionava fazer
Mova o coração
Mude o passo
Procure pelo que parece fora do lugar

E assim vai
Chamando como um vento distante
Na hora decisiva andaremos
Para atravessar ferro e fogo
Sem som para quebrar, sem momento certo
Quando todas as dúvidas estiverem claras como cristal
Batendo de frente contra o vento secreto

Você sabe o caminho
Ele se vira e volta
Mudando cores
Fiando meadas
Você sabe como
Ele lhe deixa seco
Ele lhe prega peças
E lhe leva mais alto
Você sabe como
Ele é pintado de ouro
Será mel?
Será ouro?
Você sabe o caminho
Que se apresenta
Leva você para dentro
E lhe cospe para fora
Você sabe o caminho
Que se apresenta
Leva você para dentro
E lhe cospe para fora
Cospe você para fora
Quando você deseja
Para conquistá-lo
Sentir que você é maior
Para segui-lo
Você deve estar limpo
Com erros
Que você intencionava fazer
Mova o coração
Mude o passo
Procure pelo que
Parece fora do lugar

Tudo bem
É desse jeito
A linha é fina
E se desvia pra longe
Lhe prega peças
É como se lança
Mantenha-me andando
Mas nunca grite


 

Minha pintura


Antes ficava do lado de fora, olhando para a pintura do olhar triste e vazio daquela mulher em meu corredor.
Hoje sinto como se fosse a própria imagem dela, presa, estática dentro deste quadro.
Dias e noites velando uma dor sem fim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Vazio


Sabe aqueles dias que você acorda com um sentimento de vazio absoluts...pois bem, todas as manhãs ao abrir meus olhos sinto isso dentro de mim.
E as noites também não são diferentes.
Parece sempre que falta algo a ser completado.
Minha vida se parece com um livro velho, amarelado pelo tempo, incompleto que ao virar páginas, faltam algumas e me parece que várias delas estão em branco.
Estudos, ginástica, cigarros e drinks já não tem sido suficiente para completar lacunas.
Este vazio parece vir do coração, mas este já há muito que não bate, parece ter morrido.
O que me mantém viva é o conhecimento o qual tenho buscado diariamente para conseguir manter a esperança.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sentimento do triste e belo francês



Votre âme est une paisage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Triste sous leurs déguisement fantasques;

Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune,
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,
Quit fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eaux,
Les grands jets d'eaux sveltes parmi les marbres.

(Poema de Verlaine)

O sentimento que quer se expressar neste belo poema remete-se ao triste e ao belo; o qual um misto de sonho e soluço extático face à hora difusa, banhada pelo clarão da lua.
Este sentimento não é referido diretamente - há apenas uma referência à interioridade ´"Votre âme" (Sua alma), ponto de partida de todo o poema e o "eu poético", enquanto manifestação de uma individualidade ausenta-se ou disfarça-se como os foliões"déguisements fantasques" (disfarces fantasiosos).
A expressão do estado de alma é sugerida pelo uso do símile: "votre âme est une paisage" (sua lama é uma paisagem) e a partir daí tem início o processo de prolongamento de emoção.
As danças, o alaúde, o luar,os pássaros, os chafarizes, os objetos do mundo concreto evocados no poema, não tem valor simbólico em si, se pensarmos no símbolo em sentido mais estrito, isto é uma coisa que representa outra. Estes elementos são evocados somente para que a emoção seja prolongada e reforçada e, portanto, tem o peso equivalente às cargas sonoras como no exemplo:
"Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur" (Eles não tem ar ara acreditar em sua felicidade) e a aliteração com as sibilantes em "les oiseaux dans les marbres" (os pássaros dentro das árvores).
O resultado é a criação de uma imagem "fête galante" (festa galante, chique) de uma mascarada ao luar que se impregana de espiritualidade e que por sua vez, impregna também de espiritualidade os pássaros e os chafarizes.
Tudo isso não passa de um simulacro da alma que fala através da paisagem.
O somatório de imagens visuais e sonoras como que esvazia o poema de sentido, sem que, porém, a pintura da paisagem valha por sim mesma, porquanto a luminosidade sonora, na sinestesia tenha a capacidade de despertar no leitor uma lembrança difusa de algo inexprimível em si, algo que não poderia ser traduzido senão pela magia da palavra evocativa.
É esta capacidade sugestiva so símbolo que aproxima a poesia simbolista da música, a ponto de os poetas escreverem não só de artes poéticas, como também rechearem os seus textos de violinos, pianos, enfim de música.

Frase simbólica

Música é a arte sugestiva por excelência.

domingo, 18 de novembro de 2012

Antero de Quental

Socialismo e preocupação estética em Antero de Quental
Os sonetos, ímpares em língua portuguesa, são de uma justeza verbal que permite a expansão do tormento existencial sem qualquer excesso, à semelhança do que acontece com a lírica de Camões.
Textos enxutos, plenos, poemas que são verdadeiros monumentos da literatura em qualquer tempo. Apesar de tecnicamente impecáveis, nem por isso os poemas da Antero são frios, duros, muito pelo contrário: dentro deles forças contraditórias buscam lugar e expressão, resultando em contemplação, filosofia, transcendentalidade, dor e metafísica.
        Quatro décadas de pensamento romântico em Portugal (1825-1865) foram decisivamente abaladas, há mais de 120 anos, por alguns moços que ingressaram na Universidade de Coimbra pelos idos de 1860. Entre os que fizeram a virada do reinado do sentimentalismo contemplativo para a literatura de reflexão e de combate estava um jovem poeta, idealista, audacioso, Antero de Quental.
        Esse importante poeta português – a quem alguns colocam no mesmo patamar de Camões e Fernando Pessoa – é praticamente ignorado no Brasil. A rememoração de sua e de sua obra é a qualquer momento oportuna, tanto mais que não é difícil flagrar entre grupos de estudantes universitários quem pergunte: “Mas quem é mesmo esse tal de Antero?”.
        “Um gênio que era um santo”, disse dele Eça de Queirós, mas não cheguemos a tanto. Saibamos que Antero nasceu em Ponta Delgada, nos Açores, em 1842, e aí se suicidou em 1891, com dois tiros de pistola. Do nascimento à morte uma vida de retidão moral e de altitude intelectual que permitiu o surgimento de algumas das mais belas páginas da literatura em língua portuguesa. Isso explica a influência que exerceu no espírito dos moços de seu tempo. No in memoriam que os amigos lhe consagraram, manifestações de admiração ao poeta das Odes Modernas não faltaram – e das mais altas, das mais fundas. Guerra Junqueiro afirmou que nele havia em germe “um santo, um filósofo e um herói”.
        Vida breve a do bardo, apregoador dos novos tempos, e defensor de idéias socialistas e de dignificação da poesia como instrumento para levar à reflexão o povo português. Pertenceu a uma geração esplêndida, numa época das mais ricas em termos de poesia e de efervescência cultural, bafejada pelos ventos do Evolucionismo, do Socialismo e do Positivismo.
        Aos treze anos, o menino Antero, de formação tradicionalista, católica, abandona a ilha dos Açores e viaja para o continente. Ingressa, mais tarde, na Universidade de Coimbra e, circundado pelo vagalhão de novas idéias, recebe de pronto os seus impactos, tornando-se em pouco tempo o líder de toda uma geração.
        E é na condição de anunciador de novos tempos que se atira contra os ideais românticos. E mais ainda, atira-se feroz e implacavelmente contra o velho e cego poeta Antônio Feliciano de Castilho. Castilho, sem conseguir sintonizar com os novos ventos que sopravam, preferia refugiar-se na imitação dos greco-latinos, apegando-se ao formalismo vão. Defendia, portanto, essa forma de escrita, rebarbativa, que impingia à força do Romantismo uma poesia débil, oca, vazia. Tomado da convicção de que era inabalável o panteão dos antigos, Castilho desfiou carta elogiosa ao autor do lânguido “Poema da Mocidade”, Pinheiro Chagas, destacando a superioridade de seu “desleixo de espírito” sobre a “confusão de línguas, o temporal desfeito de safiras, de plásticas, de estéticas, de filosofias e transcendências” dos moços de Coimbra, citando, entre outros nomes, o de Antero de Quental como exemplo de falta de bom senso e de bom gosto.
Antero de Quental “quase desconhecido e, sobretudo desambicioso”, entre outras circunstâncias que pareceriam suficientes para o silenciar, revidou. O que estava sendo colocado em cheque, pela pena de Antero e pelo espírito inconformado dos alunos de Coimbra, era o conservantismo universitário, a assepsia, o mofo das produções românticas então em voga.
Oposição às doutrinas ultrapassadas: com apenas 23 anos de idade, Antero de Quental ateava fogo no conformismo e na monotonia do ultra-romantismo em Portugal, indignava-se, conclamava à verdade e à justiça e dizia que o que ofendia a estas duas damas eram as idéias mesquinhas que estavam por trás dos homens, o mal profundo “que as coisas apenas miseráveis representam”. Rechaçava Castilho. A este debate, que resultou em violentas cartas entre os dois contendores, e que envolveu mais tarde outros escritores – ora a favor de Antero; ora pedindo respeito à figura de Castilho – chamou-se de “Questão Coimbrã” ou “Questão do Bom Senso e do Bom Gosto”. A vitória ficou ao lado dos “revoltosos” liderados por Antero. Poderia ser diferente?
        Depois de formado, Antero retorna às ilhas. Doíam-lhe as suas aspirações sociais, o seu ideário socialista em contraponto com sua condição de proprietário. Viaja então para Paris, onde aprenderá o ofício de tipógrafo. Interessa-lhe entrar em contacto com a classe operária e seu cotidiano, exercer as suas idéias, pô-las em prática. Seis meses depois retorna, frustrado, doente, desiludido. Viaja novamente, dessa vez pela América. Retornando a Portugal, integra associações operárias e publica folhetos de propaganda socialista.
        Era preciso, no entanto, além da troca de farpas com o grupo de Castilho, outras manifestações para solidificar o grupo de Coimbra e seus ideais. Com esse intenso Antero se junta às reuniões do “Cenáculo”, em Lisboa, transformando a tertúlia em espaço para a discussão séria da literatura e dos problemas de Portugal, realizando conferências que pretendem apontar soluções. Dessa forma, iniciam-se em 1871, as “Conferências do Castilho Lisbonense”. Por meio das palestras no Cassino, busca-se acordar Portugal para a consciência de sua época, operando a necessária transformação social, política e moral que a Nação exigia. Mas não havia sectarismo nessa atividade social e cultural de Antero, tal era a sua bondade e lucidez quanto à essência e a natureza do socialismo – que para ele consistia na organização do trabalho em estrita dependência com a envergadura moral dos trabalhadores. “Sua bondade andava inquieta enquanto sua cólera trabalhava”, dirá Eça de Queirós a respeito de Antero.
        Mas sua ação política definitiva estava fadada ao malogro. Antero não conseguia unir a idéia fervilhante à atitude física capaz de concretizá-la plenamente. Era, no fundo, um espírito mais voltado às questões metafísicas, “queria o impossível, o exageradamente perfeito como idéia para ser concretizado como ação”. E o drama anteriano revolvia-se na bruma desse querer sem poder. O poeta, cessada a fúria da juventude e da paixão transformadora, debatia-se interiormente, construindo um texto onde metafísica e transcendentalismo estabeleciam morada.
O socialista desalojara o sentimentalismo em favor de uma poesia compromissada; o deísta profundo, à força das convicções de um apostolado social, dera as mãos ao materialista difuso. Essas forças contraditórias e a doença devassavam o seu íntimo.
        Deus estava perdido como verdade emocional que se consuma pela fé. Restava, pelo intelecto, tentar alcançá-lo na curva do caminho, mas o poeta sabia que isso era impossível e que já não havia como retroceder, voltar às certezas. O suicídio surgiu talvez como alento, como forma de pôr fim ao impasse. Ficou a sua poesia, entranha, filosófica, dramática, única, a emoção cedendo lugar ao pensamento. Mas a razão não foi suficiente para apaziguar o santo Antero.

TORMENTO DO IDEAL
Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,
Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.
Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.
Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste.
 
IDEAL
Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios e nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas,
Da antiga Vênus de cintura estrita...  
Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortais entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita...
A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino...  
É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do desejo...

SONETOS
 
“Não é lisonjeando o mau gosto e as péssimas idéias das maiorias, indo atrás delas, tomando por guia a ignorância e a vulgaridade, que se hão de produzir as idéias, as ciências, as crenças, os sentimentos de que a humanidade contemporânea precisa”
Antero de Quental

Conquista pois sozinho o teu futuro,
Já que os celestes guias te hão deixado,
Sobre uma terra ignota abandonado,
Homem – proscrito rei – mendigo escuro!
Se não tens que esperar do Céu (tão puro,
Mas tão cruel!) e o coração magoado
Sentes já de ilusões desenganado;
Ergue-te, então na majestade estóica
Duma vontade solitária e altiva,
Num esforço supremo de alma heróica!
Faze um templo dos muros da cadeia,
Pretendo a imensidade eterna e viva
No círculo de luz da tua Idéia!

O PALÁCIO DA AVENTURA
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura.
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!  
Abrem-se as portas d’ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão – e nada mais!

À VIRGEM SANTÍSSIMA
(Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia)
Num sonho todo feito de incerteza,
De noturna e indizível ansiedade
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza...
Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza...
Um místico sofrer... uma ventura
Feita só do perdão, só ternura
E da paz da nossa hora derradeira...
Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa...
E deixa-me sonhar a vida inteira!

Desejos e possibilidades


Todo querer se origina da necessidade, portanto da carência do sofrimento.
A satisfação lhe põe um termo; mas para cada desejo satisfeito, dez permanecem insatisfeitos.
Além disso o desejo é duradouro, as exigências se prolongam no infinito; a insatisfação é curta e de medida escassa.
O contentamento finito, inclusive, é somente aparente: o desejo, satisfeito, imeiatamente dá lugar à outro; aquele já é uma ilusão conhecida. este ainda não.
Satisfação duradoura e permanente objeto algum do desejo pode fornecer.
É como um  caridade oferecida a um mendigo, a lhe garantir vida hoje e prolongar as misérias amanhã.
Enquanto nossa consciência é preenchida pela nossa vontade, enquanto submetidos à pressão dos desejos com sua esperança e temores, enquanto somos sujeitos do querer, não possuiremos bem-estar nem repouso permanentes.
"Se a realidade é ilusão, mera "representação", o homem acaba sofrendo no instante em que pretende chegar até ela, através do seu querer.
O decadente foi um ser refinado, de gostos excêntricos, cujos melhores representantes foram os "des esseintes", de a rebours (às avessas)  de Huysmans, qe despreza a ação e cultiva sensações extravagantes, o Axel do romance do mesmo de Villiers de L'Isle Adam, o Dorian Gray de Oscar Wilde, cuja destruição moral se dá através de estranhos refinamentos. o Harry Young, "O homem das fontes" de Antonio Patrício que idealiza abstrusas sintonias de águas e tardiamente, o von Aschembach de Morte em Veneza o oposto de sua alma  apolínea.


Saudades e tempo


                         "O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alguém da favela "Da Fazendinha" - 14/11/12



"Visão em chamas pela morte"

Meus olhos enxergam tudo e além
Mas em certos momentos da vida
Preferia estar na condição de cega.
Mas quão cega não sou infelizmente.
E quando minha visão enfadonha
Não consegue alcançar as dores alheias,
E quando meu coração fraco e antigo,
Enche-se de tantas dores.
Bate descompassadamente,
Lamentando-se pela minha incapacidade,
Tão vil e tão mortal que herdei
Da minha vaga existência.
Fecho minhas pálpebras
E deixo-me perder na escuridão
Ora da noite, ora de mim mesma.
Fico ali parada entre estilhaços,
Enquanto a fumaça preta inebria
Minhas vistas e adentra minha narinas.
Sufoco minha dor com mais dor.
E perco minhas poucas coisas materiais,
E perco minha moral, meus valores,
E perco minha própria vida.
Ali vejo meu teto cair
E deixo junto cair minha alma.
Como se fosse um anjo caído
E jamais voltasse a subir.
Desesperada vago a madrugada
Ao redor da destruição
Sem rumo, sem família, sem direção.
Perdi os sentidos, perdi totalmente a noção.
Bebi os úlimos reais enrustidos no bolso,
E na sarjeta à beira do rio pernoito.
A luz chega ainda mais forte
Que a própria garoa e frio da manhã.
Gasto minha última reza,
Implorando pela morte.
E até penso que ao menos uma vez
Deus me ouvirá e atenderá quiçá minha súplica.
Mas quão surpresa não fico,
Quando percebo que estou mais viva
Do que jamais estivera, e ainda pior:
Sem identidade, sem esperanças.
Uma vida sem morte,
Um clamor de atenção sem ser atendida,
Uma súplica de morte não ouvida.
Dor eterna de uma pobre alma errante.
Deixo-me levar pelo fogo da tristeza
E as chamas da realidade matam-me em vida.
Agora de olhos bem abertos e embriagados
Vejo o quanto estou perdida
E que meu pedido de morte
Fora atendido por Deus
Da forma mais aterradora possível:
O de estar morta para a vida.

Pour: Anna L.





Noite triste de chamas e esquecimento



Um protesto pessoal pelo que aconteceu ontem a noite na favela "Da Fazendinha" na Penha, região leste de São Paulo e que pude ver as chamas de camarote do meu apartamento...fato este que me tirou o sono.
Como sou uma pessoa sem posses e solitária bem pouco pude fazer há não ser ficar muito mau o dia todo.
Sabem o que vejo são restos daquilo que um dia algumas pessoas chamaram de casas...como se houvesse estourado uma bomba mesmo: visão de guerra, do inferno, mau consigo chegar perto da varanda...na verdade fui até lá apenas para regar minhas plantinhas e jogar o pano sobre meus periquitos por conta do frio e já fora o suficiente para piorar meu estado de condolescência.
Ontem e hoje não acenderei as luzes do meu pisca, pisca de Natal...é como se eu estivesse comemorando a morte de outras pessoas, não seria justo.
O pior é que daqui dois ou três dias, assim como quando ocorreu o "Tsunami" todos esqueceram a notícia, mas somente aqueles que perderam tudo é que não tem como se esquecer e eu ainda menos que estou de fronte ao ocorrido.