quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alguém da favela "Da Fazendinha" - 14/11/12



"Visão em chamas pela morte"

Meus olhos enxergam tudo e além
Mas em certos momentos da vida
Preferia estar na condição de cega.
Mas quão cega não sou infelizmente.
E quando minha visão enfadonha
Não consegue alcançar as dores alheias,
E quando meu coração fraco e antigo,
Enche-se de tantas dores.
Bate descompassadamente,
Lamentando-se pela minha incapacidade,
Tão vil e tão mortal que herdei
Da minha vaga existência.
Fecho minhas pálpebras
E deixo-me perder na escuridão
Ora da noite, ora de mim mesma.
Fico ali parada entre estilhaços,
Enquanto a fumaça preta inebria
Minhas vistas e adentra minha narinas.
Sufoco minha dor com mais dor.
E perco minhas poucas coisas materiais,
E perco minha moral, meus valores,
E perco minha própria vida.
Ali vejo meu teto cair
E deixo junto cair minha alma.
Como se fosse um anjo caído
E jamais voltasse a subir.
Desesperada vago a madrugada
Ao redor da destruição
Sem rumo, sem família, sem direção.
Perdi os sentidos, perdi totalmente a noção.
Bebi os úlimos reais enrustidos no bolso,
E na sarjeta à beira do rio pernoito.
A luz chega ainda mais forte
Que a própria garoa e frio da manhã.
Gasto minha última reza,
Implorando pela morte.
E até penso que ao menos uma vez
Deus me ouvirá e atenderá quiçá minha súplica.
Mas quão surpresa não fico,
Quando percebo que estou mais viva
Do que jamais estivera, e ainda pior:
Sem identidade, sem esperanças.
Uma vida sem morte,
Um clamor de atenção sem ser atendida,
Uma súplica de morte não ouvida.
Dor eterna de uma pobre alma errante.
Deixo-me levar pelo fogo da tristeza
E as chamas da realidade matam-me em vida.
Agora de olhos bem abertos e embriagados
Vejo o quanto estou perdida
E que meu pedido de morte
Fora atendido por Deus
Da forma mais aterradora possível:
O de estar morta para a vida.

Pour: Anna L.





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