terça-feira, 6 de maio de 2014

Antologia Poética por Vinícius de Moraes


Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
E estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso  fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Análise do poema de Vinicius:
É importante frisar que cada um individualmente faz a sua própria interpretação.
O amor é tão grande e intenso que extrapola os limites da dor.
A descrição de como ele toca e sente são de uma sensibilidade profunda e demonstram o quanto de desejo carnal existe, mas que o medo não deixa com que se consuma a paixão.
Sinto que há uma previsão de que se houvesse a consumação de fato, o sonho se transformaria em pesadelo e a apreciação do corpo seria assassinada, haja vista que a realidade é bem mais amarga do que a ilusão.
Então se prefere fugir por medo de sofrer ou se desiludir.
Saber que um dia todos envelhecem e morrem é doloroso demais para alguém que vê o ser amado como ídolo ou eterno, então a ausência é necessária para afastar a dor, mas como não senti-la? Já que a própria ausência da dor por si só, já traz a dor.
A morte, a realidade não passam de consequências da vida que é esposa da morte.
Me pergunto por que viver então se já estamos todos mortos?

Pour Anna