quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MENTIRA



"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer..."
Para o homem esta arte da simulação atinge seu auge: decepção, bajulação, mentira e trapaça, falar pelas costas, pose, viver com esplendor emprestado, ser mascarado, o disfarce da convenção, desempenhar um papel diante dos outros e de si mesmo – em suma, o constante alvoroço em torno de chama única da vaidade é de tal forma a regra e a lei que quase nada é mais incompreensível do que uma honesta e pura ânsia pela verdade ter surgido entre os homens. 
"Eles estão profundamente imersos em ilusões e imagens oníricas; seus olhos só deslizam sobre a superfície das coisas e veem ‘formas’; seus sentimentos em ponto algum levam à verdade, mas se contentam com a recepção de estímulos, jogando, por assim dizer, um jogo de cabra-cega pelas costas das coisas” (NIETZSCHE Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, 1873)
A verdade é que mentimos, bajulamos, trapaceamos, mascaramos, fazemos uso do disfarce, desempenhamos papéis e isso é tão habitual que uma das primeiras questões que surgem quando afirmo que os dados, em filosofia clínica, são coletados a partir da história de vida contada pelo partilhante, é: E se ele estiver mentido?
Por exemplo: crie uma história fantasiosa, inverossímil. 
Depois de ter criado, analise a história inventada...pense nos elementos utilizados para compor sua história, por exemplo, de onde eles vieram? 
Nesse exercício, geralmente identificamos componentes advindos de nossas vivências. Criamos as histórias com esses elementos, ainda que eles não sejam, exatamente, o que vivemos.
“Existe apenas um ver em perspectiva, um ‘saber’ em perspectiva; e quanto mais olhos, diferentes olhos, pudermos usar para observar uma coisa, mais completo será nosso ‘conceito’ dessa coisa, nossa ‘objetividade’. Mas eliminar a vontade de todo, suspender todo e cada afeto, supondo que fôssemos capazes disso – o que significaria se não a castração do intelecto?” (NIETZSCHE. Genealogia da Moral, 1887).
Em 1887, em outra fase de seu pensamento, Nietzsche nos apresenta esse “ver em perspectiva”. O perspectivismo é a constatação da parcialidade de nossos conhecimentos. Se hoje eu “vejo por um olho” e amanhã “vejo por outro”, ou seja, se modifico a interpretação dada ao vivido, isso não significa que ontem ou hoje eu estivesse equivocada, ou estivesse mentido. São apenas diferentes perspectivas. Isso permite que um partilhante conte sua história na primeira consulta de uma maneira, e na quinta consulta, por exemplo, conte a mesma história de maneira diferente. O que mudou? Talvez ele tenha modificado o significado do vivido por ter lembrado essa história e relacionado a outros pontos de seu relato; talvez ele esteja vivendo algo, no momento presente, que o faça modificar sua perspectiva; talvez ele tenha alterado algum aspecto em seu processo de pensamento... 
Enfim, não é possível dizer, sem um estudo aprofundado, o que se passa. 
E agora, quanto de você há na história que você inventou? Talvez os textos de nossa literatura falem mais sobre o olhar e as formas de vida de seus autores, do que sobre personagens. Talvez os relatos das vivências revelem muito mais sobre o íntimo de quem relata do que sobre os fatos relatados. Seria o caso de, como afirmou Schopenhauer na primeira frase do livro O mundo como vontade e representação, considerar que “O mundo é a minha representação”? 
No meu caso não. E para continuar sobrevivendo, algumas vezes é necessário mentir para si próprio.
Cria-se um mundo utópico e mentiroso para a visão da maioria que vê de fora, mas para mim a mentira das pessoas é a minha verdade.
Não podemos confiar em ninguém e nem em nós mesmos porque também não somos seres de mentira, manipulados pela sociedade?
O que é mentira e verdade de fato???
Pour Anna

Apenas palavras

"As maiores almas são capazes dos maiores vícios tanto quanto das maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam."

(Frase de Descartes em "Discurso do Método")



Para refletir e perceber o quanto somos donos dos caminhos que trilhamos, e ainda a responsabilidade que temos da nossa própria vida.
As vezes parece mais fácil lamentar-se e afogar-se nos mais variados vícios do que erguer a cabeça, respirar fundo e continuar no caminho reto.
Este caminho sim é mais difícil e por isso tantos e tantos desistem e se entregam.
Quanto mais dolorosa a experiência mais se aprende a viver e lhe dar com a dor.
Aos poucos vai se criando uma espécie de casco de tartaruga ou uma armadura natural que impede te fazer retroagir nas ações e atitudes.
Mas só aquele que "passa pelo inferno consegue chegar no paraíso" e nem sempre o paraíso é o céu, mas sim o próprio inferno, a esta nomenclatura intitulo a Terra planeta das expiações e provações diversas.
Tenho medo de abrir os olhos pela manhã e acabo não dormindo muitas noites.
Ao que me parece o pesadelo real da vida é mais difícil do que o sono eterno da doce morte.