sábado, 22 de fevereiro de 2014

Medo e vazio - reflexões noturnas


Sabe aquele vazio que todo ser humano tem e não sabe o por que?
Passa a vida toda e entra em crise de depressão e não consegue de fato saber o que acontece?
Parece que estou descobrindo o meu grande vazio...medo.
Esta noite me peguei chorando enquanto lia e preparava meu grande projeto que nem sei se é tão grande assim, mas enfim, surgiu um lampejo e percebi o quanto eu tenho medo.
Tenho medo de não ver mais pessoas que gostaria de vir, de ir a lugares que sempre sonhei, ter coisas que desejei, o físico que gostaria de ter e o tempo passando...
De madrugada quando o silêncio toma conta esta noção do tempo passando é ainda mais presente e é marcado pelo "tic tac" do relógio velho pendurado na parede.
Engraçado pensar que as coisas todas ao redor envelhecem vão criando poeira, teia de aranha...mas estarão ali eternas, há não ser que alguém deteriore de alguma forma. Mas não que o tempo faça o mesmo que faz com a gente.
As coisas ficam e nós morremos. E os nossos sonhos? Também morrem?
Aí é que está a grande resposta da vida para a morte: "NÃO"
Sabe por que não? Porque quando se quer muito algo você luta com todas as forças até que o sonho deixa de ser sonho e se torna realidade.
Desta forma seja lá qual for a dificuldade que esteja passando não deve ter medo.
Quando deixamos o medo tomar conta nos acovardamos perante a vida e perdemos a chance de lutar pelos nossos ideais e dai eles se transformam em sonhos e nos deixam num estado de dormência, que rima até com demência, o qual nos ausentamos daquilo que queremos e criamos uma utopia de nada.
Um vazio criado em cima de outro vazio. E assim sucessivamente.
É muito difícil lhe dar com certas situações, mas quem disse que a vida é fácil?
E mais ainda...quem disse que a morte é fácil?
Haja vista tais circunstâncias o melhor que temos a fazer é não desistir, tentar até a última gota de suor.
Quando agimos com a força de toda nossa alma vencemos, ainda que demore.
Tenho um exemplo muito forte: quando a saudade de alguém que esteja ausente bate mais forte, penso tanto e fecho os olhos direcionando meu coração, mente e alma na imagem e lembrança daquela pessoa e o resultado é instantâneo...consigo captar a essência dela e de um jeito ou e outro falo com ela.
Com tudo o que desejamos do fundo da alma também funciona assim.
Mas é um trabalho árduo que temos que traçar conosco mesmo para captar esta energia que temos implícita em nós e ceifar o querer até o mesmo virar o ter.

(Pour Anna)

Dark Sanctuary - Laissez Moi Mourir


Enquanto isso...num momento só meu  ouço o que há de melhor da música underground.
Para os amantes das madrugadas solitárias regadas de leituras e filosofia segue a dica..."deixe-me morrer!" traduzindo do francês para o português.
Me fez lembrar de alguém...

Pour Anna

Soneto de Separação - Vinícius de Moraes


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Não sei nem como descrever a profundidade destas águas de poesia que este ezímeo poeta nos proporcionou.
No entanto confunde-me a mente, e não sei ao certo se as palavras agrupadas numa intensidade de sentimentos transformam-se em música...
Soa-me neste soneto tanta dor do mal que o tempo marcado por "De repente" uma surpresa triste daquilo que um dia foi certo, e que abruptamente já não é mais.
Então a nossa vida não está permeada de "de repentes"?
O amor que de repente vira ódio...a alegria que de repente vira tristeza...a presença que de repente virá ausência.
Finalizo agora, não mais do que de repente que somos isso...uma utopia lançada pelo tempo e que ora está de um jeito, ora de outro, mas nada é certo, afinal.
De repente tudo acaba, mas quando de fato começa?

Pour Ana Paula L.