domingo, 26 de abril de 2015

Definição de Glosa em Literatura


Glosa é um tipo de poema, utilizado normalmente pelos poetas do Nordeste do Brasil, principalmente os cantadores.
É um poema com estrofes de mais de dez versos, que respondem a um desafio expresso em forma de mote e é composto por dois versos, esses versos se apresentam na glosa de duas formas:  ou os dois versos aparecem no fim da estrofe para compor a rima ou aparecem como quarto verso da glosa, e o outro verso na última posição.
O poeta Paulo Camelo criou um Glosa com mote migrante, ou seja, um poema com mais de uma estrofe, onde o mote aparece em posições diferentes, ascendendo nas estrofes das últimas para as primeiras posições.

Glosa também pode ser relacionado a valores, pois significa a suspensão, retirada, supressão total ou parcial dos valores descritos em um determinado documento ou de um orçamento. Também é conhecida como uma nota explicativa sobre palavras ou sentido de um texto; de uma interpretação ou de um comentário.
Garcia de Resende, poeta português, reuniu aproximadamente mil poemas palacianos na obra Cancioneiro geral, publicada em 1516. Conheça alguns poemas retirados da obra de Garcia de Resende:
Exemplo:
Meu amor, tanto vos quero,
que deseja coração
mil coisas contra a razão.
Porque se não vos quisesse,
como poderia ter
desejo eu me viesse
do que nunca pode ser.
Mas com tanto desespero,
tenho em mim tanta afeição
que deseja o coração.
Aires Teles
Meu amor, tanto vos amo,
que meu desejo não ousa
desejar nenhuma cousa.
Porque, se a desejasse,
logo a esperaria,
e se eu esperasse,
sei que a vós anojaria,
mil vezes a morte chamo
e meu desejo não ousa
desejar-me outra cousa.
Conde Vimioso
A poesia palaciana é marcada por ambiguidades, conotação, aliteração e jogo de palavras. Inerente às produções humanistas, foi pouco popular em sua época de criação, mas é importante para o estudo e a história da literatura, pois seu valor literário é inquestionável e sua análise possibilita conhecer o comportamento artístico e a cultura durante diversos reinados.
Glossário
Mote: estrofe colocada no início de um poema, usada como motivo/tema da obra.
Glosa: composição poética que desenvolve o mote.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Aleijado ou deficiente físico?

Há pouco tempo atrás, uma aluna perguntou-me se o termo "aleijado" era usado somente para aquelas pessoas que haviam perdido as pernas.
Então peguei-me numa incógnita, e fui pesquisar. Haja vista, que ao meu ver o termo "aleijado" seria apenas e tão somente para aqueles indivíduos que haviam perdido as pernas, diferentemente de "deficiência física", que abrangeria todo o restante dos membros.
Na pesquisa, descobri que a palavra aleijado quer dizer mutilado, estropiado ou paralítico, ou seja, a verdadeira definição seria a de uma pessoas com defeito físico gravíssimo com perda, mutilamento de um dos membros físicos.
Algumas pessoas utilizam-se do termo "portadoras de deficiência" ou "portadoras de necessidades especiais" para designar alguém com deficiência, no entanto, na maioria das vezes, desconhece-se que o uso de determinada terminologia pode reforçar a exclusão. 
Esclareço que o termo "portadores" implica em algo que se "porta", que é possível se desvencilhar tão logo se queira ou chegue-se a um destino e remete, ainda, a algo temporário, como portar um talão de cheques, portar um documento ou ser portador de uma doença. 
A deficiência, na maioria das vezes, é algo permanente, não cabendo o termo "portadores". Além disso, quando se rotula alguém como "portador de deficiência", nota-se que a deficiência passa a ser "a marca" principal da pessoa, em detrimento de sua condição humana.
Até os anos 80, utilizava-se termos como "aleijado", "defeituoso", "incapacitado", "inválido", desde então, passou a utilizar o termo "deficientes", por influência do Ano Internacional e da Década das Pessoas Deficientes, estabelecido pela ONU.
A partir de 1981 entraram em uso as expressões "pessoa portadora de deficiência" e "portadores de deficiência". 
Por volta da metade da década de 1990, a terminologia utilizada passou a ser "pessoas com deficiência", que permanece até hoje.
A diferença entre esta e as anteriores é simples: ressalta-se a pessoa à frente de sua deficiência, valorizando-as, acima de tudo, independentemente de suas condições físicas, sensoriais ou intelectuais. 
Também em um determinado período acreditava-se como correto o termo "especiais" e sua derivação "pessoas com necessidades especiais". "Necessidades especiais" quem não as tem, tendo ou não deficiência? Essa terminologia veio na esteira das necessidades educacionais especiais de algumas crianças com deficiência, passando a ser utilizada em todas as circunstâncias, fora do ambiente escolar.
Não se rotula a pessoa pela sua característica física, visual, auditiva ou intelectual, mas reforça-se o indivíduo acima de suas restrições. 
A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem, e na linguagem se expressa, voluntária ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiência, basta nos lembrar que a pessoa com deficiência é antes de tudo, simplesmente uma pessoa.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Sono Profundo II


Então as luzes apagaram-se, 
Um forte barulho ecoou em meus ouvidos,
Aquele instante poderia jamais ter existido.
Mas existiu.
Voltei para casa e caminhei perdido, porta a dentro.
Os cômodos pareciam estar tortos, gélidos.
As cores claras e alegres, tornaram-se cinzentas.
O chão parecia não existir.
Por vezes eu caminhava sob as nuvens
Sentia-me mesmo sem chão
E agora, sabia o verdadeiro significado da frase.
Mas isso tudo é hoje.
Amanhã será diferente, e depois e depois.
Até que não mais farei diferença.
E a convivência com os outros familiares, amigos,
Apenas mero acaso do destino.
E os dias passam-se, tristes, amargos, difíceis
Rios de lágrimas... 
Que num supetão
Formou-se em Lete.
E se fez valer no esquecimento.
Não podia acreditar que tudo voltara a ser como antes
Mas só que sem mim.
Como puderam? Como pode?
Simplesmente, não mais estava presente
E até mesmo minhas coisas já não mais estão aqui.
Foram dadas talvez,
Ou jogadas fora, não sei ao certo.
Assim como fizeram com minha presença:
Esquecida no vão do tempo, das pessoas,
De um vida sem sentido, 
Porque a morte a ceifou.
E não se sabe como, nem o motivo.
E cá estou; solitário, triste e morto.

(Pour Anna Paula L - 17/04/2015)

Sono Profundo I


Estava ali: parado, estático, 
Tentava falar, gritar mas não conseguia.
Um desespero inominável tomou conta de mim.
Mas havia um peso sob meu corpo.
Meus lábios enrijecidos não abriam
Tentei, tentei, mas nada adiantava
Parecia estar num palco de teatro;
Pessoas vinham e iam a todo momento
Alguns me tocavam nas mãos, outros na face,
Uns choravam, outros riam levemente,
Mas eu continuava ali, sem nada entender.
Desisti por cansaço e me entreguei ao sono.
Era um sono estranho demais; dormi, mas só que não.
Repentinamente voltei, então falei, mas ninguém ouviu de novo.
Eis que as luzes se apagaram,
As cortinas fecharam,
E num súbito, percebi, morri!
(Pour Anna Paula L. - 17/04/2015)