E quando almas estão ligadas
O tempo não limita a saudades.
O esquecimento que os problemas cotidianos abafa,
Não é suficiente para alcançar o âmago mais profundo do coração.
Algum fato que remete lembranças do passado,
Numa noite, entra trazendo um frio suave na semana..
E ao longe, os olhos tristes e cansados,
Que olham para tudo, mas não conseguem enxergar nada.
Se perdem na paisagem nebulosa e empoeirada,
Da grande cidade seca e amargurada.
As pálpebras enchem-se de lágrimas,
Mas o vento bate e parece secá-las.
Então há uma simbiose: a cidade tão querida e meu eu.
Somos uma só: envelhecidas, amarguradas e secas.
A vida parece cada vez mais difícil
E a entrega é algo covarde,
Mas o cansaço de nadar e nadar
Sem chegar a lugar nenhum
É por vezes angustiante.
A cabeça pesa, dói,
A enxaqueca é uma constante.
O sono chega tarde e parece arrastar-me pelos pés.
Perdida e embriagada, num bar qualquer da grande cidade,
Cansada, mas acalentada por elogios interessados
De um ser qualquer daquele lugar, continuo caminhando...
Ouço uma voz ecoando num tom de lamentação e ironia:
"E você disse que iria me esperar...estou vendo..."
Não poderia ser, com os olhos turvados pelo álcool,
Foi em direção daquela sombra,
Eis que a escuridão enche-se de luz!
Aproximei-me e não pude acreditar no que via; era minha, sua alma.
Fiquei confusa; já não sabia mais quem eu era, ou você.
Mas sim, era ele ou eu...
Os mesmos olhos tristes com a cor do inverno,
Encobertos por lentes semi-escuras
A tonalidade grave e o formato maior que o convencional
Mas perfeitamente delineado...
Havia porém, algo diferente; os cabelos estavam curtos..
Mas sim, era você, ou eu.
Minha essência sempre a mesma: você é único, eu sou única.
Abracei-o e esqueci que estava acompanhada daquele algoz,
Ser humano inútil, que não se sabe nem ao certo, como surgiu.
Voltei-me a ti, mim mesma; como sentira tua falta, minha falta.
Como pudera sobreviver tantos anos sem ti, sem mim.
Sentei-me junto a ti e falamos com os olhos.
O silêncio falava mais do que mil palavras
E o verdadeiro era de fato verdadeiro.
Muito juntos, não queríamos mais nos separar,
Nunca mais, nunca, nunca, nunca...
Nos acariciávamos como felinos
Numa pureza infantil, sempre presente entre nós.
Mas agora com um tom diferenciado,
Já que o tempo nos dera-nos marcas e sentimentos mais adultos.
Enfim, parecia ter encontrado o que há tempos havia perdido.
Então tristemente acordei, mais uma vez com lágrimas nos olhos
Ainda não era minha hora; a hora do encontro comigo mesma, contigo.
(Pour Ana Paula L - escritos de um sonho em 05/12/2014)
Realmente encantador.
ResponderExcluirObrigado(a)!
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