É importante saber
Que ainda existe,
De alguma forma ainda existe.
Algo que se torna parte do mundo, parte de mim.
Traz-me inspiração,
Outrora pensava estar perdida,
Mas começo a tocar,
Talvez um ensaio de algo,
Uma canção saudosista
Regada à lágrimas tristes,
Acompanhadas com penas
De um sofrer sem fim.
Os tons vão aumentando
Bem como a dor.
Repentinamente fecho os olhos
Encharcados por um rio de sangue.
Então a intensidade da solidão,
Aumenta ainda mais o som,
Que desloca-se e perde-se em agudos.
Torna-se forte e distorce as notas
Como se fossem experimentos sem nexo.
A composição vai tomando posição
Quase non tropo e moderata.
O coração bate tão forte,
Que aperta e prensa o meu tórax,
Comprimindo os órgãos inúteis
De ser humano que sou.
Bato bravamente o teclado,
E vem a pausa silenciosa.
Chopin torna-se cúmplice,
De quase uma canção,
Incloncluída num passado não muito distante.
Perco a respiração,
Penso que agora enfim...
Serei acolhida pelo manto da morte.
Mas quão infeliz sou,
Ao voltar em vida mortis.
Eis que a tristeza sufoca-me ainda mais.
E a sonoridade mistura-se.
Às lágrimas que caem copiosamente
Sobre as teclas amareladas do piano.
Ai que tormento!
O desespero de não poder amar
De não poder sentir,
De não poder ver.
Pior mesmo do que estar jazendo.
A arte está pintada em preto e branco,
Ao meu redor apenas cinzas.
Pintura de uma vida sem cor,
Canção sem melodia,
Amor sem amor,
Vida sem vida,
Morte sem morte.
E cá eu estou;
Compondo sem composição
Com versos sem rimas
Desritmados e perdidos.
Como se fossem versos sem rimas.
Num começo sem fim.
E foi-se tudo
E com este tudo,
Minha alma se apagou.
Páro de tocar.
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