quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A morte verdadeira - 11/10/2016


Durante anos de sua vida, ela buscou uma explicação para o enorme vazio que lhe assombrava.
Mas foi aos trinta e seis anos que conseguira sanar a escuridão que tinha dentro de si.
Conhecera enfim, a vida no seu sentido máximo. 
Aprendera a duras penas que errava, mesmo pensando acertar, e que não era perfeita, ao contrário; tinha muitos defeitos.
Uma noite, experimentou no seu mais profundo sentido, a maculação verdadeira do amor, sendo que, no momento, tentara encontrar explicações, mas não encontrou, apenas deixou sua alma flutuar, enquanto era sucumbida por algo mais forte do que jamais pensara que pudesse  existir.
Depois vieram as críticas, que no princípio magoaram-na, mas na sequência, contrariando seus modos, fizeram-na crescer, melhorar em nome de agradar seu rei maior.
A simplicidade, o cotidiano, nunca coisas simples do dia a dia lhes foram tão esperados e doces, ainda que nas condições que lhe eram oferecidas; sempre um terço, ou o que sobrava...e de repente, mais nada lhe restara.
O que não entendia foi o que acontecera na verdade: a mesma pessoa que lhe trouxera a vida, pudera ter lhe dado também a morte?
Sim estava morta. E já não conseguia mais enxergar o quanto sua alma perdida, que vagava solitária por entre o nada, e que lhe foi deixada em desespero a espera de uma fresta de luz, estava de fato morta. 
Restava-lhe somente lembranças, que visualizava ao longo dos terríveis dias da semana, cruéis finais de semana que passavam lentamente apunhalando-a em cada carro que circulava no trânsito do viaduto, mas que honra ainda tinha poder de camarote, ao lado da cadeira vazia de uma fria e cinzenta varanda observar o rio cheio de tristeza, saudades e dor.
As lágrimas diurnas, noturnas, um sufocamento dela, ainda a faz ia sentir o cheiro do sabonete dele no seu travesseiro. 
Tamanha a dor da ingratidão, indiferença e desamor.
Não podia entender a provocação advinda de alguém que só fizera o bem e amara no inteiro teor. Por quê? Ia perdendo a crença no homem, em Deus. Deus? Que Deus? Onde estaria que não podia ouvir os gritos de saudades pelo nome dele e a dor que transpassava a alma de alguém bom de coração...Cadê Deus?
Até seria entendível, alguém que você tivesse outrora magoado querer te ferir, mas ao contrário?
Pensava mesmo, que se com toda doação e devoção como ela fizera por amor, e tão somente, não conseguira alcançar o coração do seu rei, nada mais poderia fazer sentido, nada mais.
O que teria sentido afinal, sem seu grande amor?
Restava-lhe continuar a caminhada, desiludida das pessoas e dessa vastidão de mentiras, falsas promessas.
Mas com a certeza única: de que, após ter experimentado o sabor mais amargo da vida e da morte, conhecera o verdadeiro amor, e este mesmo amor que outrora a fez renascer, assassinou-a impiedosamente, dando-lhe como presente a morte verdadeira.

(Pour Ana Paula L.em 11/10/2016)




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